Dinaer

Figura controversa, uma icógnita. Cada palavra do primeiro livro, cada frase, é ele que diz. Seu nome está no título e, apesar disso, sua presença não é notada por muitos. É que ele é apenas uma voz sem face. Um narrador onipresente e imparcial (aparentemente), uma seqüência de imagens. Apesar do prólogo, Dinaer é, sem dúvida, no início indistinguível da própria história. Mas já no capítulo 2 ele recorda sua presença ao mencionar um sonho seu. E mesmo assim, há os que não o entendem como o personagem... ele continua sendo apenas a voz. Mas Dinaer é um personagem completo. No momento certo, ele mostra sua real natureza e sua capacidade de intervir decisivamente no desenrolar da trama, para perplexidade do leitor.

Ele já foi acusado de louco, de incoerente. De fato, pode ser. Mas acho que ele é lúcito. O problema é que não é fácil explicar as atitudes de um deus (ele é um deus - ou diz ser). Dinaer foi o personagem mais difícil de criar. Queria fazê-lo humano e divino. Humano em seus defeitos e em sua vaidade. Divino em sua percepção do mundo que o cerca. Ele não vê como nós. No tempo, passado e futuro são grandezas relativas para ele. Sua percepção pode navegar tanto numa direção como noutra e, por isso, antevê muitas coisas. No espaço, percebe interrelações que para um humano podem soar como paradoxo. Por isso, suas atitudes, às vezes, por levarem em conta conseqüências pouco evidentes, podem parecer absurdas. Mas não são - eu acho.

É difícil explicar Dinaer. Ele talvez seja cruel. Cruel como a tempestade que causa a enchente - uma força da natureza. Porém, não sei se existe nele a crueldade mesquinha dos humanos. Por falta de algo melhor, fico com a explicação de Ariela Delonien, a narradora do segundo livro, que o considera uma força cega direcionada a um fim. Talvez seja isso mesmo. Um ser de muitos nomes e faces, cuja coerência é atribuída por seu obscuro propósito.

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