Tempos antigos

Já me perguntaram se existiria algum livro anterior a "A Guerra das Sombras: O Livro de Dinaer", publicado o ano passado pela Novo Século. Naturalmente, isso se deve ao fato de que o livro faz diversas referências a eventos acontecidos antes - às vezes milhares de anos antes - do início do romance. Tomemos como exemplo o primeiro parágrafo do primeiro capítulo:

Na grande ilha do sul, em um tempo de decadência, sobre os escombros de impérios esquecidos, brotou a semente. E ela nasceu sob tormentosas circunstâncias, cresceu em pedregoso terreno, sob frio clima, sob grandes nevascas. Mas ela não pereceu. Ao contrário, persistiu e com ela um destino e uma mensagem. Pois a semente era o alorain, o arauto que proclamava o retorno da antiga guerra, a guerra que se movia pelas sombras, por detrás dos destinos e anseios humanos, a guerra em que lutavam imortais. O que ele sabia desse conflito? Nada! Nem o alorain, nem nenhum daqueles que o rodeavam conheciam as velhas histórias, mortas, como fogo extinto, como memória que se torna mito, verdade e mentira misturadas. Contudo, o arauto faria com que todos percebessem que o passado nem sempre está morto e que as velhas memórias podem emergir de seu exílio e penetrar no domínio do presente.
Que impérios esquecidos são essses? Que memórias o alorain deve trazer a tona? Fala-se de uma guerra, mas pouco se explica a esse respeito. Realmente, é tudo muito incerto no início, o que parece indicar a existência de outro livro que viesse a sanar essas dúvida. Mas, de fato, esse livro não existe.

E, apesar disso, a história dos tempos antigos é o fundamento a partir do qual desenvolvi "A Guerra das Sombras". A maior parte dessa história antiga não está escrita. E nem seria necessário escrevê-la, simplesmente porque ela está intimamente interligada com o enredo de "A Guerra das Sombras". Por isso, é possível contá-las em conjunto, revelando a antiga ao mesmo tempo em que surge a nova. É isso que tento fazer ao longo dos quatro livros.

Para quem tiver curiosidade, deixo aqui uma epígrafe que consta no terceiro volume e que fala um pouco desses tempos remotos, quando ainda existia um império que dominava o mundo inteiro. O texto, rimado, fala de sua lenta (mas inexorável) dissolução no período conhecido como a Decadência:

Por tanto tempo, por tantos ciclos, eras inteiras de eterna luz, vive um Império de vastas cidades, força pujante que o mundo conduz! Vejam o Império, meus caros amigos: ele se abre a nossa frente. Grandes paisagens, territórios unidos, distribuídos em três continentes. Mas eis que uma dúvida atroz e terrível, nasce de guerra transitória e fugaz. Uma questão por demais desprezível, superstição para o homem capaz. Mas saiba que os dias do cosmo infindável, tornam verdade o que era mentira. Cisma irreconciliável plantam no cerne, corroendo a alma como etéreo verme. E não há cura para essa doença! Nem esperança, nem salvação! Pois a promessa de recompensa, ou o medo da perdição, são chamas fortes, intensas, mais poderosas que a razão. Que poder tem, Império tão antigo?De que valem suas armas quando é invisível o inimigo? De que serve sua riqueza quando o algoz não pode ser comprado? De que serve sua beleza em um mundo deflagrado? Oh, sacerdotisas do passado, por acaso não sabiam que até as construções mais fortes devem ruir ante a idéia da morte? Pois não há mais cidade das estrelas, não há mais grande paisagens. Só resta um mundo extenuado, meros resquícios das velhas paragens. E muitos clamam consternados: onde estão os senhores do destino nesta hora? Onde está o velho orgulho agora? (Réquiem para o Antigo Império)

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