Bem e mal em "A Guerra das Sombras"

"O Bem é apenas um ponto de vista"
Palpatine (Star Wars)

Tenho recebido e-mails de leitores confusos sobre as idéias de bem e mal em "A Guerra das Sombras". Principalmente aqueles que já leram o segundo livro têm me perguntado quem são as forças do "bem" no enredo e quem representa "o mal". A confusão é previsível já que o narrador do primeiro livro (Dinaer) tem um ponto de vista diametralmente oposto ao de Ariela, narradora do segundo. O que é percebido como uma dádiva por ele, ela vê como uma maldição. Assim deuses tornam-se demônios e vice-e-versa. Qual dos dois está certo?

Não existe resposta simples para essa pergunta, já que uma resposta depende, sim, do ponto de vista adotado. Mais importante ainda: ao menos aparentemente, não parece existir um lado que esteja inteiramente certo. A ambigüidade moral está presente desde o início: bem e mal misturados convivem nos personagens. Zairom, por exemplo, tem, sem dúvida, muitas virtudes e sua causa pode ser considerada justa. Isso não impede que tenha cometido graves equívocos (como lembra Dinaer) e que também seja frio e orgulhoso, chegando às fronteiras da crueldade em certos momentos (quando interrogou o prisioneiro no calabouço). Mas se, no espírito de cada personagem, o vício está misturado à virtude, não parece possível que um lado seja inteiramente bom. É como diz Dinaer ao questionar Ariela no segundo livro: "vê o preto e o branco, mas ignora os tons de cinza. Esse o mundo não é dos absolutos, criança, nunca foi!".

O mundo pode não ser dos absolutos, como afirma Dinaer, mas isso não quer dizer que os tons de cinza sejam todos iguais. Reconhecer a complexidade do mundo, não significa admitir a validade moral de todas as coisas nem igualar vício e virtude. Significa apenas perceber que cada personagem e cada facção luta por seus objetivos e que, pelo menos de acordo com certo ponto de vista, tais objetivos podem ser entendidos como um bem.

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