Moldando o futuro e o passado

Escrever ficção para mim sempre foi como formar um mosaico, ou montar um quebra-cabeça. Com isso quero dizer que as peças (eventos e personagens) devem se encaixar, que uma peça tem importância na formação das demais - molda, em certa medida, as demais. Logo, mesmo que acredite conhecer o futuro e o passado da minha história, e tenha uma idéia de como tudo começa e termina, nem sempre acerto em minhas previsões. Não é raro que me surpreenda quando o futuro que vislubrava não se materializa, ou quando as memórias que tinha de eventos pretéritos mostram-se ilusórias. Tudo em razão da lógica do mosaico, da necessidade de encaixar as novas peças às antigas.

Alguns poucos personagens de "A Guerra das Sombras" também são capazes de antever o futuro. O que eles sabem, em realidade, é que se certos fatos tiverem lugar outros também acontecerão. Sua visão, portanto, é condicionada a suposições sobre eventos presentes e futuros - suposições que podem se mostrar infundadas. Sou como eles. Quando os eventos se matrerializam na tela do computador de forma diferente do que eu imaginava, acabam transformando também o futuro, ao obrigar a linha do tempo a desviar-se para uma de suas tangentes. Assim, quanto mais distante está o evento, maior a possibilidade de ser transformado pelos muitos componentes que o antecedem no enredo.

O final de "A Guerra das Sombras", que escrevi em novembro do ano passado, é completamente diferente daquele que havia imaginado em 1999. Da idéia original restaram alguns poucos vestígios difíceis de identificar. Esse componente aleatório, que algumas vezes me torna quase um espectador de minha própria história, é a principal força que me faz continuar escrevendo. Afinal, eu, como o leitor, também anseio por conhecer o final.

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