Península Oreânica versus Ilha Zainíquia

Num outro texto, mencionei que uma diferença crucial entre o primeiro e o segundo livros são os narradores.Outra discrepância fundamental é a localização. Se o primeiro volume passa-se numa ilha de clima temperado, o segundo livro tem seu enredo numa península subtropical. Se a ilha do primeiro volume é um Império unificado, a península do segundo é uma terra dividida entre diversos reinos.

Repito a afirmação que consta num outro artigo: a chave para a entender a dinâmica do mundo de "A Guerra das Sombras" são as migrações causadas pela decadência. Se isto é verdadeiro no que tange à Ilha Zainíquia, é ainda mais correto no que diz respeito à Península Oreânica. Afinal, é muito mais fácil deslocar populações dentro de um continente do que transportá-las para uma ilha remota no meio do mar de gelo. Dois mil anos de migrações significaram dois mil anos de guerras. Como poderia ser diferente? Não só a Península teve de absorver levas vindas de outras regiões do continente (como a Terra de Alaran) e de além-mar mas também foi cobiçada por impérios continentais ascendentes (como Trol-naqui).

Por que ela é tão preciosa? Vejamos sua vizinhança. Ao norte, temos o deserto escarlate, tão seco que não conseguiria comportar mais do que uma esparsa população de beduínos averonitas. A oeste temos estepes que logo se transformam em escaldante deserto - a antiga Terra de Alaran. A leste e ao sul, o mar. A nordeste há terras razoavelmente férteis - os planaltos que formavam o coração da antiga Averonádia Ocidental. As terras férteis, ao largo do rio eterno, foram suficientes para que lá florescessem o império trolnaquiano e, mais a leste, alguns reinos norgam. Mas logo o planalto degenera num curioso deserto úmido, chamado de Terra dos Mortos. Ora, é fácil entender a cobiça pela fértil Península, que só foi reforçada pelo fato de que, pelo menos a partir da ascensão dos cilianos, a região tornou-se um eixo da maior relevância para as rotas comerciais. Os cilianos, grandes navegadores, eram monopolistas em certos produtos que traziam de além-mar e que, a partir da Península, levavam por terra para todo o Continente Verdadi. Produtos tropicais trazidos do continente roduano, por exemplo, atingiam altos preços. Quem controlava a Península, naturalmente, tinha o domínio de tais rotas. Não é de se espantar, portanto, que um ascendente Império das Sombras objetivasse o domínio inconteste da região.

Um dos eventos cruciais mencionados no Livro de Ariela é justamente a tentativa do Império das Sombras de estender pela força militar seu domínio por toda a Península, com o objetivo ocupar posição semelhante a dos antigos cilianos. De fato, os reinos locais, mesmo tomados em conjunto, dificilmente poderiam fazer frente ao poderio zainiquiar. Ao que parecia, o Império insular iria, em breve, transformar-se numa grande potência continental. Mas tudo dependia, é claro, do resultado do conflito.

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