Influências na criação do mundo

Já me perguntaram se fiz pesquisa específica para elaborar as civilizações e a história do mundo de "A Guerra das Sombras". A resposta não é simples, pois nem sempre é fácil identificar influências. Se a pergunta é se li livros de história ou geografia especificamente para escrever este romance, diria que isto aconteceu apenas algumas vezes. Lembro-me, por exemplo, de que para a elaboração de uma certa batalha li o livro Arte da Guerra de Sun Tzu. Mas estas leituras foram incidentais primeiro porque meu foco está nos personagens e não no seu entorno e, segundo, porque não pretendia reconstruir uma época específica, como disse no início, e, por isso, a pesquisa histórica tornou-se uma necessidade apenas mediata.

Digo mediata já que, obviamente, para criar a cultura, política e história de "A Guerra das Sombras" tive que me inspirar em civilizações existentes. Mas como este processo nem sempre é algo inteiramente consciente, acabei fazendo uso de minhas leituras pretéritas e do que sabia sobre a história das civilizações clássicas e dos reinos medievais europeus. Um livro que, com certeza, me influenciou significativamente foi "O Príncipe" de Maquiavel. Isto porque ele fala de um elemento do cenário que eu fiz questão de desenvolver o melhor que pude: a política. Queria tornar o conflito entre as diversas facções do Império algo crível para o leitor. Não se trata de um Senhor da Escuridão que quer dominar o mundo mas, sim, de interesses conflitantes e de alianças e inimizades que são forjadas à luz desses interesses. No segundo livro, cheguei até a citar uma formulação clássica deste autor: é importante manter os amigos perto e os inimigos ainda mais perto. De fato, a amizade e a lealdade (ou mesmo a ideologia) tem pouco significado no Império das Sombras quando se trata de questões de Estado e nisto está, por exemplo, a influência de Maquiavel.

Hobbes (Leviatã) foi utilíssimo na elaboração da história de outra região: a Península Oreânica. Trata-se de um sistema anárquico em que todos lutam contra todos pela disputa de terras e recursos escassos e em que conceitos como o equilíbrio de poder, como em Tulcídides, desempenham um papel fundamental. Por exemplo, se não fosse pela guerra de Algar, seria impossível a invasão da Península pelo Império das Sombras, em razão da aliança tácita que existia entre os demais reinos - o fundamento desta aliança é justamente o equilíbrio de poder. Mas quando quando Algar foi destruída o equilíbrio deixou de existir e os sonhos de conquista imperiais ganharam vulto.

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