Enredo ou forma

Lia uma matéria sobre o Phillip Pullman na revista New Yorker (http://www.newyorker.com/archive/2005/12/26/051226fa_fact) quando me deparei com um trecho de um discurso dele que achei bem interessante:

Há alguns temas, alguns assuntos, que são amplos demais para a ficção adulta. Só é possível lidar com eles adequadamente em livros infantis. Na ficção literária adulta, o enredo é meramente tolerado. Outros elementos são considerados mais importantes: técnica, estilo, conhecimento literário. Os aspirantes a George Eliot de hoje em dia têm pudores ao falar de seus enredos. Sentem-se envergonhados. Se conseguissem escrever romances sem história, eles o fariam. Às vezes, escrevem. (...) Nós precisamos tanto de histórias que estamos dispostos a ler livros ruins que as contenham se os bons livros não as fornecem. Todos precisamos delas, as crianças são apenas mais sinceras a esse respeito.

A tradução (um pouco truncada) é minha. O original pode ser encontrado na página 6 do artigo da New Yorker.

Concordo com o Pullman. O que me interessa são as histórias. Não que a forma não seja importante: ela é. Entretanto, um livro com uma forma primorosa mas sem história não me atrai. É a história que me leva aos livros ficção. É a história que me prende a eles. Na minha visão, a linguagem é um meio para expressar o enredo, mas para alguns escritores essa relação se inverte. A linguagem se torna o fim e o conteúdo, uma mera desculpa para o desenvolvimento da forma.

Qual das duas posições está correta? Não existe certo e errado nesse caso. Há preferências. O problema é quando uma das posturas se torna cânone ou "mainstream". Existe aí uma relação de superioridade/inferioridade que não me parece muito justificada. É como o Pullman disse: certos autores têm vergonha de um bom enredo. Preocupar-se ou enfatizar o enredo não é aceitável para algumas pessoas. Quem se preocupa mais com o enredo do que com a forma não estaria escrevendo "uma literatura adulta", seja lá o que isso signifique. Aí é que está o "X" da questão apontada pelo Pullman! Aí é que está o erro.

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