Duna

O tema do escolhido permeia a cultura e a literatura ocidentais, pelo menos, desde a ascensão do cristianismo. Diferentemente do conceito oriental de avatar, o escolhido não é uma mera encarnação da divindade. Ao contrário, tem necessariamente um lado humano que está em conflito com o destino que lhe é imposto. A dúvida e a incerteza sempre assombram o escolhido, e uma hesitação sua pode implicar a diferença entre a perdição da humanidade ou a sua redenção.


O tema do escolhido é transportado para um futuro distante na obra de Frank Herbert. Um futuro em que a civilização humana, ao espalhar-se pela galáxia, passa a depender de um único produto: o tempero geriátrico. Uma analogia possível seria a dependência que a nossa civilização tem do petróleo. Mas é ainda mais produnda: não só as viagens espaciais dependem do tempero mas, também, a própria extensão da vida humana requer o consumo rotineiro da substância. E se o consumo é interrompido, há uma crise de abstinência que pode matar o usuário. O que torna a questão ainda mais delicada é que o tempero geriátrico é encontrado em apenas um planeta conhecido: o árido mundo de Arrakis, ou Duna. Por isso, quem controla Arrakis controla a produção do tempero, e quem controla a produção do tempero, controla a civilização humana.

É neste pano de fundo que se desenvolve a história de Paul Atreides. O pai de Paul, Leto, é o Duque do Planeta Caladan. Já no início do livro recebe uma ordem do Imperador para que deixe Caladan e passe administrar Arrakis, em substituição a casa Harkonnen. É possível antever desde logo que algo de nebuloso paira sobre a questão e que grandes riscos esperam os Atreides em Arrakis. O livro passa girar então em torno de dois pilares fundamentais: a intriga política e o confronto dos Atreides com o ambiente hostil e exótico de Arrakis.

Frank Herbert costura estas duas facetas de forma harmoniosa. Apesar do aspecto hostil, o mundo de Arrakis e seus habitantes, os fremen, fascinam o leitor pelo seu exotismo. E quando Paul é forçado a mergulhar neste universo único, vai se defrontar com uma antiga profecia da gente do deserto e compreender seu próprio papel em sua realização.

Nesta pequena análise fui forçado e simplificar (e muito) as sutilezas do enredo. Aliás, este talvez seja o melhor adjetivo para descrever Duna: sutil. Seja na descrição do mundo, seja na construção dos personagens, Frank Herbert costura um romance que encanta por sua riqueza de detalhes. A saga de Paul Atreides suga a atenção do leitor desde o início e isto se deve em grande medida ao caráter convincente do universo em que ela se passa. Trata-se, sem dúvida, de um clássico da Ficção Científica e da Fantasia que precisa ser lido por todos os fãs do gênero.

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