Entrevista para o blog Garota It

Como foi o processo de escrita da série A Guerra das Sombras?
Desde criança, uma das minhas brincadeiras preferidas era inventar histórias. Lembro que passava horas imaginando as mais inusitadas aventuras, sem ser capaz de transformá-las em texto. Já naquela época, inventar histórias era um jeito de dar vasão a sentimentos e raciocínios que teria dificuldade de expressar de outra maneira.


Quando comecei a escrever a série “A Guerra das Sombras”, não foi nada muito planejado. Eram as minhas brincadeiras infantis assumindo uma nova forma, talvez sua forma verdadeira. Eu amadurecera e agora expressava minhas inquietudes e anseios em palavras digitadas na tela do computador. Estava, na época, cursando o quinto ano da Faculdade de Direito. Não esperava escrever um livro inteiro – muito menos ser publicado. Também não escrevi pensando nas outras pessoas. O que eu queria, de verdade, era agradar a mim mesmo: conceber uma história que me prendesse a atenção do começo ao fim. Porque o escritor também é um pouco leitor, também vai descobrindo sua obra conforme escreve. Por mais que tenha uma ideia sobre o rumo que deseja seguir, é na hora da escrita que realmente conhece os personagens e os detalhes do enredo que podem até mudar este rumo. Talvez por isso, por querer saber o que viria a seguir, tenha persistido e acabei escrevendo a série inteira. Foi um processo lento. Ia avançado sempre um pouquinho por dia: poucos parágrafos, meia página que fosse. E depois de sete anos tinha os quatro volumes terminados e mais de mil de duzentas páginas de texto.

Se você pudesse ser um de seus personagens, quem você seria? Por quê?

Está aí uma pergunta difícil. É como perguntar para um pai de que filho ele gosta mais. Os personagens são filhos da alma do escritor. Em outras palavras, para que não sejam meras caricaturas, devemos emprestar a eles o que há de bom e o que há de ruim em nossa natureza. Não acredito muito em vilões inteiramente maus e em herois sem defeitos. O escritor deve ser capaz de simpatizar com seus vilões e de reprovar seus herois de vez em quando. Se os seres humanos são cheios de ambiguidades e até de paradoxos, os personagens também devem ser assim. Agora, mesmo sem escolher, o personagem a quem eu emprestei mais do que eu sou, ou melhor dizendo, do que eu era quando tinha a idade dele foi, sem dúvida, o protagonista, Rairom. Mais nos defeitos do que nas virtudes, acredito que o protagonista se parecia muito comigo. Conforme a história avançava, ele foi mudando e eu passei a discordar de muitas de suas atitudes. Contudo, pelo menos por um certo tempo, acho que fui Rairom mais do que qualquer outro personagem do livro.

Qual suas obras e autores preferidos?

Entre os autores de ficção Científica e Fantasia posso destacar J. R. R. Tolkien (“O Senhor dos Aneis”), Frank Herbert (“Duna”), Philip Pullman (“Fronteiras do Universo”), Isacc Asimov (“Trilogia Fundação”), Neil Gaiman (“Stardust”), Jonathan Stroud (“Trilogia Barthimaeus”), Philip K. Dick (“Blade Runner”) e Arthur C. Clarke (“2001 uma Odisseia no Espaço”). Todos esses autores construíram universos de grande criativadade e são referências para qualquer um que goste do gênero. Entre os escritores e poetas de outros estilos, meus favoritos são Fiodor Dostoiveski, Machado de Assis, Shakespeare, George Orwell, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Gabriel Garcia Marques, Jorge Luís Borges, para citar apenas alguns nomes particularmente emblemáticos.

A publicação de livros nacionais é difícil. Como você conseguiu que seu livro fosse publicado? E como foi o processo de divulgação?

Foi um processo complicado e, em certa medida, ainda é. Não há portas abertas para o escritor novato, em especial quando se trata de gênero ainda pouco desenvolvido no Brasil, como é o caso da Fantasia. O envio de originais às editoras é um processo um pouco frustrante. Foi muito difícil conseguir ser avaliado. A verdade é que as editoras não têm estrutura para processar a quantidade de originais que recebem. O mais provável é que o original nunca seja lido. Na maioria dos casos, não obtive resposta. Algumas poucas vezes, a editora enviou uma resposta negativa padrão. Acabei conseguindo publicar pela Novo Século que tem, a sua maneira, apostados em escritores brasileiros de Fantasia desde a sua fundação. A editora distribui razoavelmente bem: os livros chegam a todas as regiões brasileiras. Infelizmente, é difícil conseguir espaço nas grandes redes. Um pouco em razão da tiragem mais ou menos modesta (uns dois mil exemplares), um pouco em razão da disputa com os bestsellers estrangeiros, é difícil conseguir um bom espaço nas redes ou que o livro esteja presente em todas as lojas. Mesmo assim, muita gente entrou em contato com a série pela primeira vez nas livrarias. A melhor forma de divulgar à disposição do iniciante é, sem sombra de dúvida, a internet. Por meio de sites de relacionamento e de serviços de microblogs é possível entrar em contato com bom número de leitores e de potenciais interessados. O site www.skoob.com.br, por exemplo, reúne leitores brasileiros que relacionam e comentam seus livros preferidos. Um site pessoal, no meu caso www.aguerradassombras.com, também ajuda. Já consegui entrar em contato com vários fãs e muitas pessoas conheceram meu livro pela internet.

As capas dos livros são incríveis! Você acompanhou o processo de design?
Nesse particular tenho que dar todo o crédito à equipe da Novo Século e aos capistas Carlos Guimarães e Diego Fioroto. Já recebi mensagens de leitores que tiveram sua atenção despertada pela capa e que compraram o primeiro livro da série por causa da beleza do design.

A saga A Guerra das Sombras terá um 5º livro ou a história chegou ao fim em O Livro de Iazmein?Você está atualmente escrevendo algum livro?
A série “A Guerra das Sombras” é encerrada no quarto volume. Ela narra um período específico da história de um mundo: um confronto de um império insular contra uma aliança de vários reinos do continente. Esse confronto é resolvido no quarto volume. Isso não impede que eu revisite o mesmo universo, que explore outras épocas e lugares. Mas, nesse caso, não se trata de uma continuação, propriamente, porque o enredo é outro. É isso que estou tentando fazer agora. Estou visitando um outro lugar e época do mesmo universo de “A Guerra das Sombras”, com personagens diferentes e uma outra história. A ideia é criar uma série que teria influências não só da Fantasia mas também da Ficção Científica. É um projeto que ainda está muito no início. Vamos ver se o livro decola.

Você acredita que os livros fantásticos são a grande porta para que os jovens se interessem pela literatura?

É uma das portas, sem dúvida. Grande parte dos meus leitores são jovens e eu acho isso ótimo porque é muito importante que os brasileiros jovens leiam mais. Infelizmente, no nosso país, por uma série de razões, o hábito da leitura ainda não está tão disseminado. Um dos motivos é que ler literatura muitas vezes não é visto como uma diversão, como uma forma de entretenimento. A culpa, pelo menos em parte, é da escola que impõe a leitura dos clássicos cedo demais, que associa o ato de ler a um trabalho, ou a um estudo, e não a uma escolha livre. A literatura fantástica pode, um pouco, cumprir esse papel de desmistificar a leitura. Não é que os livros de Fantasia devam ser mais fáceis, ou acessíveis, ou devam sacrificar sua qualidade para alcançar um público mais amplo. Ao contrário, a temática da Fantasia, que atrai os jovens, é uma oportunidade de apresentar trabalhos de qualidade que despertem o gosto pela leitura. O importante é que cada vez mais gente perceba que a literatura é, acima de tudo, uma fonte de prazer, como a música, o cinema, e as outras manifestações artísticas.

Obrigada pela entrevista! Gostaria de deixar alguma mensagem para quem quiser saber mais sobre sua obra?

Queria apenas agradecer a oportunidade e o convite para esta entrevista. Gostaria também de incentivar os leitores a que conheçam a literatura de Fantasia que vem sendo produzida no Brasil. Vários escritores têm publicado suas obras e novas editoras especializadas estão surgindo. Há entre os livros recentemente publicados muitos que são de boa qualidade e que vale a pena conhecer.

link: http://garotait.com.br/2010/04/06/entrevista-com-o-autor-jorge-tavares/#more-940

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