Entrevista para o site Cultura Pop

Um mundo mágico e cheio de aventuras.Foi isso que o escritor Jorge Tavares entregou aos leitores nos quatro volumes da saga A Guerra das Sombras, projeto ao qual ele dedicou sete anos de sua vida. Com fãs espalhados por todo Brasil, A Guerra das Sombras é uma das mais conhecidas séries de aventura nacional e colocou Jorge Tavares no mapa dos campeões de vendagem. Direto de Assunção, no Paraguai, onde trabalha na Embaixada Brasileira, Jorge Tavares conversou com o CoolT sobre a criação de A Guerra das Sombras, se ele pensa numa adaptação para o cinema, os novos projetos em que está trabalhando e muito mais.


COOLT: O processo de criação de um escritor é sempre muito curioso. Como foi que surgiu a ideia para A Guerra das Sombras? Em que momento da sua vida você se sentiu envolvido por essa história?

Na época, a impressão que tive foi de uma decisão repentina, de começar a escrever simplesmente. Agora, porém, relembrando, percebo que "A Guerra das Sombras" surgiu aos poucos, acercando-se como um fantasma. O certo é que não foi nada muito racional ou planejado. Um ano antes de começar a escrever, tinha cadernos em que rabiscava trechos de histórias, com o mesmo estilo. Hoje percebo que era já o romance começando a surgir. Foi um processo gradual, em que a história era muito mais fantasiosa e caricata no início. Quando finalmente comecei a escrever já tinha um enredo bem mais concreto,  em que ainda permaneciam deuses e magos, mas em que ganhavam importância os conflitos humanos. Escrever era uma oportunidade de tratar certas questões e aspirações que teria dificuldade de expressar de outra forma. Foi essa oportunidade que me  envolveu gradualmente e me fez persistir até o término da série. Acho que realmente comecei a pegar o gosto pela atividade quando terminei o capítulo oito do primeiro livro. Nesse ponto, os conflitos em que o livro se assentava ficaram mais evidentes e eu passei a conhecer melhor os personagens. Devia ter então uns vinte de dois anos e havia recém terminado a faculdade de Direito.

COOLT: A Guerra das Sombras consumiu alguns anos de sua vida. Quanto de seu tempo você dedicava aos livros?

Realmente, foram uns sete anos para escrever a série toda. Demorou esse tempo não só pelo tamanho da empreitada (umas mil trezentas páginas ou quatrocentas mil palavras) mas, também, pela necessidade de fazer releituras para lapidar o texto. Além disso, não foi um processo muito metódico. No início, procurava escrever todas as noites por cerca de uma hora. Graças a essa disciplina, consegui terminar os dois primeiros volumes ("O Livro de Dinaer" e "O Livro de Ariela") em cerca de dois anos e quatro meses. Depois foi um processo mais lento, porque comecei a dedicar-me de forma mais intensa ao estudo para os concursos públicos e depois ao trabalho. Deixei de escrever todo dia ou passei a escrever por períodos mais curtos de tempo. Por isso, demorei mais quatro anos para terminar as duas partes finais ("O Livro de Laios" e "O Livro de Iazmein").

COOLT: A Guerra das Sombras se passa num mundo totalmente criado por você. De onde se começa a criar um mundo novo? Pelas pessoas, pelos lugares?

Criar um mundo de Alta Fantasia é um processo fascinante. Para mim, é como montar um mosaico ou um grande quebra-cabeça. No início, é simples: cria-se alguns lugares e personagens básicos e um fio condutor para o enredo. Não é necessário, nesse princípio, já conhecer os detalhes da história. Há apenas uma noção muito vaga do universo mais amplo. Conforme o enredo vai progredindo, vai-se adicionando novos elementos, que devem necessariamente encaixar-se com o que já foi afirmado. É preciso criar um cenário que seja rico e sirva ao enredo, mas que não seja mais importante do que a história em si. O que acontece em certos livros do gênero é que a história apresentada no livro passa a ser quase uma desculpa para a apresentação do cenário. Esse problema eu tentei evitar.

COOLT: Você é formado em Direito e trabalha como Diplomata, que acredito, envolva muito trabalho burocrático. Como você concilia esses dois universos completamente diferentes: o mundo da escrita, que é completamente onírico, e mundo rígido das Relações Diplomáticas?

As duas facetas, no meu caso, complementam-se muito bem. A criação literária me permite desenvolver uma atividade que envolve mais a emoção, enquanto a diplomacia dá mais espaço ao meu lado racional. Além disso, a atividade diplomática me permite conhecer outras culturas e lugares, o que amplia a minha visão de mundo e, assim, pode ajudar minha criatividade como escritor. Atualmente estou servindo na Embaixada do Brasil em Assunção, Paraguai, onde chefio o Setor Cultural. A cada ano temos a oportunidade de promover e organizar eventos que divulgam o que se produz no Brasil na área da cultura. As atividades do Centro Cultural da Embaixada incluem expressões artísticas variadas, como a música, o teatro, as artes plásticas, a dança, e, como não poderia deixar de ser, a literatura. Convido a todos a conhecer o site do Centro Cultural no facebook (http://www.facebook.com/CCEBA), onde estão disponíveis descrições e imagens dos vários eventos realizados.

COOLT: No nosso blog, costumamos brincar de adivinhar o futuro. Se tem alguma história de que gostamos, tentamos imaginar como ela ficaria se virasse filme. Você já pensou em seus livros adaptados para cinema? Quais seriam os atores e o diretor escolhidos por você?

Essa é uma pergunta difícil de responder sem parecer pretensioso ou mesmo ridículo. É verdade que já imaginei meu livro virando filme, mas nunca pensei nos detalhes. Já imaginei, por exemplo, meu livro sendo adaptado para um anime, que poderia ser dirigido por ninguém menos que Hayao Miyazaki (Viagem de Chihiro). Para uma minissérie ou filme nacional, a direção poderia estar a cargo Luiz Fernando Carvalho. A título de brincandeira posso tentar imaginar um elenco para uma adaptação do primeiro livro. O Fábio Assumpção poderia seria Fairon, o Thiago Lacerda, Zairom,  o Rodrigo Santoro, Dinaer, o Stênio Garcia, para Diom. Para o trio de adolescentes que protagonizam o livro não tenho muita ideia. Que tal Bianca Bin para Lisian? Ou o Jayme Matarazzo para Rairom? Para Tairom teria que ser um menino. Não tenho ideia mesmo. Poderíamos continuar esse exercício, porque há muitos outros personagens, mas acho que já está de bom tamanho. É muita pretensão realmente, mas como diz o samba enredo, sonhar não custa nada.

COOLT: Você é um dos poucos escritores nacionais contemporâneos a serem publicados. Como fez para quebrar o monopólio dos best-sellers estrangeiros? Como A Guerra das Sombras saiu da sua gaveta e foi parar nas livrarias?

Recebi muitos nãos explícitos e velados. O mais comum, é claro, é não receber resposta alguma. Percorri todos os caminhos do escritor iniciante. Procurei agente literário. Publiquei por e-book. Até considerei uma publicação por conta própria. E enquanto isso mandava originais para as editoras, geralmente sem obter resposta. A verdade é que as editoras simplesmente não têm condições de analisar a quantidade de originais recebidos. O mais comum é que o livro caia no que eles chamam de “pilhas de baboseiras”, e nunca seja lido ou avaliado. É uma barreira difícil de transpor. Foram mais ou menos três anos até encontrar a editora Novo Século, que a sua maneira tem criado oportunidades para autores nacionais desde a sua fundação.

COOLT: Pode falar um pouco para nós sobre seus novos projetos? Está escrevendo alguma coisa no momento?

Tenho, sim, um novo projeto. Trata-se de uma série que se passa no mesmo universo de "A Guerra das Sombras" mas em outro tempo e lugar. Não é uma continuação porque o enredo e os personagens são outros. Ainda é cedo para adiantar detalhes, mas pretendo nessa nova história combinar elementos de Ficção Científica e Fantasia. Até agora estou me divertindo bastante escrevendo. Espero que o resultado fique bom. Acredito que o primeiro livro talvez possa estar terminado lá pelo ano que vem.
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