Minha relação com os personagens
Eu pensava que sentiria falta dos personagens depois que terminasse
de escrever os livros, já que o tempo de convivência com eles foi longo e
já havia sentido esta espécie de "saudade" e "luto" ao terminar a
leitura de obras de outros autores. Curiosamente, isto não aconteceu.
Não senti pesar algum ao terminar “A Guerra das Sombras” nem me pareceu
que estivesse me separando dos personagens. Isto me levou a cogitar que o
laço que me liga a minha própria ficção é, de alguma forma, diferente
da ligação que eu desenvolvo com as obras de outras pessoas.
O escritor, é inevitável, empresta algo de si mesmo a suas criações. Afinal, o personagem nada mais é do que uma idéia do escritor e, portanto, só existe na medida em que formos capazes de emprestar-lhe nossa própria humanidade. Isto não significa, é claro, que sejamos forçados a criar pessoas parecidas conosco. É o contrário: a literatura é infinitamente maleável. Mesmo, porém, quando criamos alguém muito diferente, este alguém é, em certa medida, uma reinvenção de nós mesmos. Há algo do autor em cada criação, ou, pelo menos, em cada criação bem sucedida.
Talvez por isso, acabei desenvolvendo uma relação muito particular com meus personagens: uma relação de tolerância. Por emprestar-lhes algo do que sou, era sempre capaz de compreender os motivos deles e, mesmo quando cometiam atos bastante reprováveis, eu conseguia perdoá-los quase sempre. Era curioso quando meus personagens se envolviam em alguma espécie de disputa ou duelo verbal. Muitas vezes, era incapaz de decidir qual dos dois lados estava certo, ou, mesmo quando favorecia uma das posições, reconhecia a legitimidade da outra.
Escrever é expor a si mesmo, conhecer-se através do espelho de seus personagens. É também um exercício de tolerância. Isto, é claro, responde a dúvida apontada no início. De certa maneira, separar-me dos meus personagens significaria me separar de mim mesmo, o que é impossível. Eles continuam comigo inevitavelmente, apesar de eu não estar mais escrevendo sobre eles.
O escritor, é inevitável, empresta algo de si mesmo a suas criações. Afinal, o personagem nada mais é do que uma idéia do escritor e, portanto, só existe na medida em que formos capazes de emprestar-lhe nossa própria humanidade. Isto não significa, é claro, que sejamos forçados a criar pessoas parecidas conosco. É o contrário: a literatura é infinitamente maleável. Mesmo, porém, quando criamos alguém muito diferente, este alguém é, em certa medida, uma reinvenção de nós mesmos. Há algo do autor em cada criação, ou, pelo menos, em cada criação bem sucedida.
Talvez por isso, acabei desenvolvendo uma relação muito particular com meus personagens: uma relação de tolerância. Por emprestar-lhes algo do que sou, era sempre capaz de compreender os motivos deles e, mesmo quando cometiam atos bastante reprováveis, eu conseguia perdoá-los quase sempre. Era curioso quando meus personagens se envolviam em alguma espécie de disputa ou duelo verbal. Muitas vezes, era incapaz de decidir qual dos dois lados estava certo, ou, mesmo quando favorecia uma das posições, reconhecia a legitimidade da outra.
Escrever é expor a si mesmo, conhecer-se através do espelho de seus personagens. É também um exercício de tolerância. Isto, é claro, responde a dúvida apontada no início. De certa maneira, separar-me dos meus personagens significaria me separar de mim mesmo, o que é impossível. Eles continuam comigo inevitavelmente, apesar de eu não estar mais escrevendo sobre eles.
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