Trilogia Bartimeus

A Trilogia Bartimaeus é uma ótima série de Fantasia que combina bem mistério, aventura e magia. O autor costura seu universo com base em uma pergunta: que aconteceria ao nosso mundo se a magia fosse real? Poderia ela conferir a seus praticantes o poder de influenciar o jogo político e o desenrolar da História?


Magia, na obra de Stroud, é o poder de invocar demônios. Rigorosamente falando, os magos não possuem nenhum poder mágico, a exceção do conhecimento de fórmulas que os permitem invocar e escravizar os demônios. Todo aspecto de maravilha que deveria vir com a presença do mágico fica, assim, em grande medida esvaziado. A magia, na Trilogia Bartimaeus, é sobretudo uma relação de escravidão.


O mundo que nasce dessa circunstância é parecido com o nosso em alguns aspectos e diferente em muitos outros. Geopoliticamente, por exemplo, o Império Britânico, governado pelos magos, ganhou uma sobrevida, conseguindo manter o controle até o início do século XX de seus vastos territórios e até mesmo, com certa dificuldade, de suas colônias na América do Norte. O regime dos magos é opressivo, já que reserva aos feiticeiros os principais cargos da administração.

É nesse cenário que se desenrola a história de Nathaniel que, ainda muito jovem, é escolhido para ser treinado como mago. Nesse início, os livros têm algo das obras de Dickens, pelo tratamento cruel que é dispensado ao menino pelo seu mestre e por outros adultos. Também nesse início revela-se um dos principais defeitos de toda a série: o maniqueísmo da maioria dos personagens secundários. Os magos e seu regime são quase todos corruptos e maléficos, o que beira quase a caricatura. Felizmente, Nathaniel escapa desse problema e é ambíguo o suficiente. O melhor personagem do livro, porém, sem dúvida é o djín Bartimaeus, que é responsável pelo humor que existe no livro e, estranhamente, considerando que se trata de um demônio, é o personagem com mais virtudes. Ao mesmo tempo, porém, é um espírito amargurado pela longa escravidão (ao que parece, já está a serviço dos magos há milhares de anos). É a presença de Bartimaeus e sua relação com Nathaniel que tornam a série memorável.

Ao longo dos livros, Nathaniel vai ascendendo na estrutura do governo dos magos e esse processo tem algo de quase kafkaniano, pela forma opressiva como o sistema é retratado. A peripécias do jovem mago também têm muito mistério e intriga. Em certos momentos a série, que é quase toda passada em Londres, aproxima-se muito de uma história de Sherlock Homes. Infelizmente, o principal mistério que permeia toda a trama (a identidade do mago que está por detrás da conspiração contra o governo) é facilmente desvendável a partir já do segundo volume, dada a grande quantidade de pistas que o autor joga diante de nós.

Apesar desses defeitos, a obra de Stroud tem enredo muito bem costurado, é bem escrita, e deve agradar aos fãs do gênero.

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