Um conselho para novos escritores

Em entrevista ao jornal Rascunho, João Ubaldo Ribeiro deu o seguinte conselho aos novos escritores:

    "Conselho infalível, claro, não tem. Convém que esse que queira dedicar-se à literatura vá munido de muita esperança e pouca expectativa, para não se desiludir demais. Vá crente de que não é mole. Que ninguém estoura. Que o único lugar onde o sucesso vem antes de trabalho é no dicionário, a não ser com as habituais exceções.

    Tem que se ter uma teimosia terrível. Tem que ter talento ou a coragem necessária para, um belo dia, se for o caso, perceber que não tem talento. Agora, quem tem talento para escrever, não tem o que temer. Ele vai e escreve, vai e escreve, vai e escreve - e um dia aquilo sai. Isso eu tenho certeza. Agora, a teimosia e a persistência são fatores indispensáveis. E acrescentaria, embora não saiba bem o que estou acrescentando, mas estou repetindo o meu amigo querido e homem sábio, Jorge Amado, que era ateu e não acreditava no sobrenatural, e que, misteriosamente, dizia: "- E também um pouco de sorte, viu compadre?". E também um pouco de sorte, que eu não sei bem o que quer dizer, mas que desejo a todos, inclusive pra vocês, cuja atenção tão generosa acabo de merecer. Até logo. Felicidades."

A íntegra da entrevista pode ser lida neste link.

Concordo com João Ubaldo. Dizem que concursos públicos, como o do Instituto Rio Branco, são difíceis. Posso dizer que a literatura é muito mais difícil do que qualquer concurso público. Antes de publicar, é muito complicado expor seu texto a um julgamento das editoras. O risco de cair na chamada "pilha de baboseiras" é enorme. A maioria das editoras simplesmente não tem meios para avaliar textos não requisitados. Se o novo escritor vai ser avaliado ou não vai depender muito da sorte ou de algum contato que ele possua no meio editorial. Como a maioria dos novos escritores não possui contatos desse tipo, as dificuldades, de fato, são enormes. A alternativa, na maioria das vezes, é a publicação por conta própria - o que não é barato.

Depois de publicado o livro, é mais difícil ainda conseguir uma boa exposição nas livrarias. Hoje em dia, ao que parece, tal exposição custa dinheiro e não são muitas as empresas dispostas a arcar com estes custos, especialmente para escritores novos, cujos livros tem mais chances de encalhar. A divulgação também é extremamente difícil. Em boa parte dos casos, é muito complicado para o novo escritor conseguir o acesso à imprensa e a propaganda, quando existe, acaba sendo feita por meios alternativos como a internet. Criar um site ajuda. Ajuda também pagar serviços como Google AdWords ou ter um perfil no orkut. Mas essas soluções, menos eficientes que uma divulgação pela imprensa, estão longe de ser panaceas.

O resultado é que não existe concorrência justa, ou igualdade de oportunidade, antes ou após a publicação. Por isso tudo acontece muito devagar. Publicar demora. Formar um público leitor demora – com as exceções de sempre como disse o João Ubaldo. O jeito é ter paciência e persistência. O problema é que quase todos entram com expectativas exageradas e acabam se desapontando. É preciso encarar a carreira literária como investimento de longuíssimo prazo. Os frutos, se vierem, vão demorar bastante. Cada vez mais estou convencido de que ser escritor no Brasil é menos uma forma de ganhar dinheiro do que uma fonte de realização pessoal.

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